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o consumo no mundo globalizado (parte 1)

A reflexão a seguir será dividida em três partes que serão publicadas, sendo elas:

I. “O consumo no mundo globalizado”

II. “Fast Fashion” e “Slow Fashion”

III. “Como a vestimenta se operacionaliza”

imagem do filme "o homem com uma câmera" de Dziga Vertov

Parte 1: O consumo no mundo globalizado

A moda da sociedade Ocidental nem sempre foi um elemento esteticamente unificado, globalizado, onde uma mesma fábrica produz milhares de peças que são distribuídas para diferentes países diariamente. Foi a partir da Revolução Industrial (século XVIII e XIX) que podemos perceber os primeiros vestígios do processo de massificação dos produtos, onde a produção, distribuição e venda das peças de roupas passaram a ser realizadas em fábricas. Antes disso, o trabalhador ou artesão era quem fazia todo o processo de criação e montagem de um produto, após a industrialização ele passou a ser responsável por uma parte específica, e não mais de todo o processo de construção dos produtos. O trabalhador deixa de ser uma pessoa, passando a ser visto como um objeto (pois ele faz o papel de uma ferramenta na fábrica), não tendo consciência do processo de montagem e produção de forma inteira, somente da sua função específica, fragmentada.

No século XX, após a Primeira Guerra Mundial, esse processo foi intensificado e as fábricas de roupas passaram a fabricar roupas prontas para o uso e de fácil acesso à população. As pequenas lojas e casas de costura passaram da costura artesanal ao prêt-à-porter (roupas prontas para o uso), surgem lojas de departamento e redes varejistas, onde se encontram peças produzidas em massa e com preços mais acessíveis. Isso tudo ocorreu por conta do impacto da Primeira Guerra Mundial, pois para suprir a demanda de uniformes militares, houve muito investimento em maquinarias fabris de vestuário. Na Segunda Guerra Mundial, tal processo é ainda mais acelerado, acarretando em diminuição dos preços das roupas e a padronização dos tamanhos das peças.

Também no século XX e XXI, inúmeros fatores como o cinema, a fotografia, as revistas, a televisão, a mídia, a internet, entre outros meios de comunicação, influenciaram a massificação dos gostos e a disseminação de informação pelo mundo. Tal massificação se relaciona tanto com o âmbito da moda, quanto a todo um processo de homogeneização do gosto, das escolhas, dos estilos de vida, das relações sociais, da alimentação.

Essas transformações trouxeram inúmeros pontos relevantes que refletem até hoje em nossa sociedade: a democratização do acesso aos itens de moda, as extensas jornadas de trabalho para os trabalhadores das indústrias têxteis e uma visível aceleração no processo de consumo desses bens. No século XXI vemos uma moda dita plural, e a aceleração do consumo se dá também por conta do acesso à informação através da internet e outros meios de comunicação já citados.

Porém, o foco aqui não será o processo de industrialização do mundo da moda e seus impactos, e sim, como a sociedade conversa, se adapta e se modifica em conjunto com tais processos históricos. Vemos que atualmente, no século XXI, as grandes franquias de lojas de moda estão mundialmente distribuídas, e que a cada semana há reposição de roupas e acessórios em tais lojas. Os consumidores adaptaram-se a freqüentar semanalmente essas grandes lojas, isso por conta de aspectos relacionados ao baixo preço das peças e a constante reposição e inovação do campo da moda.

Tais aspectos invertem os mecanismos de poder que tínhamos em relação aos objetos até a Segunda Guerra Mundial, porque de acordo com Milton Santos (2011), os objetos são coisas reais, eles atribuem discursos ideológicos aos seres humanos e conversam com a nossa forma de agir e de se portar. Até a Segunda Guerra Mundial éramos nós que atribuíamos poder aos objetos, porém, atualmente se enxerga uma sociedade pautada em objetos que atribuem valores às pessoas. Isso por conta de diversos fatores, um desses fatores seria o marketing do mercado, que se baseia, de certa forma, no gosto do consumidor.

O processo de apreensão dos objetos de consumo funciona como uma engrenagem da nossa sociedade, onde há excesso de produção e excesso de consumo. Pensando em tais mecanismos dentro do campo da moda, vemos um movimento intitulado como “Fast Fashion”, que de forma direta reflete o mundo plural, globalizado e produtivo que estamos vivenciando.

Referências:

SANTOS, Milton. 2011. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 20ª edição.

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